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Marc Cortés – A transformação digital das organizações e das pessoas

Marc Cortés – A transformação digital das organizações e das pessoas

  • Agosto 27, 2019

Marc Cortés, sócio e diretor-geral da RocaSalvatella, já nos falou dos desafios da transformação digital nas empresas e de como se está a integrar o uso de big data. Nesta segunda parte, falamos sobre como as organizações e as pessoas vivem este processo e como se adaptam a ele.

Em que estado se encontram as empresas espanholas em relação a esta transformação digital? É uma das suas prioridades? Estão a adaptar-se à mudança e a modificar os seus modelos de negócio?

Em traços muito gerais e tendo em conta que não se pode generalizar, creio que, para uma percentagem importante das pequenas e médias empresas, é uma preocupação e figura nas suas prioridades, enquanto as grandes empresas já o têm presente. É que um pequeno comerciante, com estabelecimento na rua, confrontado a alguém que faz e-commerce com um produto igual ao dele, vê como é afetado.

Poderíamos dizer que, nos últimos cinco anos, o tema digital entrou nas agendas da direção e é-lhes incumbida como uma das suas capacidades. Em geral, as PME querem uma resposta a curto prazo porque dela depende a sobrevivência do seu negócio, enquanto as grandes empresas pensam nisso mais a médio ou a longo prazo.

Que papel desempenha a Direção nestes processos de transformação digital?

Num processo de transformação digital, aquilo que se faz é modificar o modo como uma organização aborda o seu presente e o seu futuro, de maneira que precisa de ser impulsionado da Direção para baixo. Acreditar nisso é a chave do sucesso, porque assim, não é difícil que as pessoas mudem o seu quotidiano nem a sua forma de trabalhar.

É aconselhável que esta digitalização comece primeiro por alguns departamentos e se estenda ao resto da empresa? Ou é melhor que, desde o início, se implemente em toda a empresa? Existe algum modelo ou alguns passos iniciais a seguir?

Diria que não existe um padrão a seguir, uma vez que cada empresa é um mundo. O que é preciso ter em conta é que tudo o que é de índole digital provoca dois movimentos: de cima para baixo e transversal. Hoje em dia, o que é digital não tem um departamento, ou então poucas são as empresas que o criaram, e também não está provado que isso faça a empresa ser mais digital. Uma boa maneira de abordar isso é procurar pessoas internas que acreditem neste assunto, por serem digitais de série ou por serem muito fãs da marca, que possam ajudar a mobilizar todo este processo internamente.

Seria conveniente criar novas estruturas na organização?

Não sou muito partidário de criar novas estruturas na organização, creio que idealmente deva ser normalizado este elemento digital e incorporado nas estruturas já existentes da empresa. Evidentemente, consoante quem o adotar, acontecerão umas coisas ou outras. Se for assumido pelo Departamento de Desenvolvimento de Negócio, Marketing ou Comunicação, esta mudança de negócio será seguramente mais marcada pela relação da marca com os seus mercados. Se o entregar aos Recursos Humanos ou Inovação, terá garantidamente um olhar mais interno. Como sempre, depende da cultura da própria organização.

Considera-se a equipa humana como um dos fatores críticos quando se trata de trabalhar a transformação digital dentro das organizações: resistência à mudança. Acredita que é assim? Que papel desempenha neste processo de formação?

Quando se aborda o assunto da formação, descobre-se um território com muita instabilidade e que, além disso, gera muita incompreensão nas organizações. Estamos acostumados a que, normalmente, seja o departamento de Recursos Humanos quem se encarrega da formação, mas, neste caso, falamos de capacitação e isto é uma coisa distinta. Ou seja, estamos a capacitar as pessoas para o uso do digital para que abordem os desafios da organização.

Que desafio se coloca em relação à formação e capacitação?

Se apenas abordamos este aspeto do ponto de vista da capacidade e, por exemplo, a nossa empresa vender o produto A se quiser agora passar a vendê-lo pela Internet, poderia despedir a pessoa que sabe como vender o produto A e contratar a alguém que saiba como vender pela Internet. Estaria provavelmente a adquirir a capacidade digital, mas estaria a perder a do conhecimento do produto. Parece-me muito mais interessante capacitar a pessoa que sabe acerca do produto A, no uso das ferramentas digitais, entre outros motivos, porque a pessoa que for recrutada daqui a 10 anos terá essas capacidades de série.

Não se trata de formar em ferramentas, mas sim de capacitar as pessoas no uso destas ferramentas para desenvolver a atividade de negócio. Aplicado ao exemplo da burótica: não faria frequentar um curso de Excel, ensinaria como o trabalho desenvolvido no dia-a-dia poderia ser feito usando o Excel.

Que papel desempenham os departamentos de Recursos Humanos?

Os departamentos de Recursos Humanos têm indicadores mais vinculados ao número de cursos frequentados ou trabalhadores formados do que indicadores de negócio, como poderia ser, por exemplo, quantos novos clientes foram captados por meio de ferramentas digitais. Daí que muitas organizações tenham optado por passar a capacitação digital para outras áreas como as do desenvolvimento de negócio, marketing ou até comunicação.

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